segunda-feira, 25 de maio de 2009

Artigo "A GRANDE EQUAÇÃO SOCIAL"

A GRANDE EQUAÇÃO SOCIAL
Por Aniz Tadeu Zegaib, em 2005


O terceiro setor está em evidência, está na mídia. Senão por seus propósitos sociais, pelo envolvimento, direto ou indireto, com o mundo político.

É sabido que grande parte dessas organizações existe apenas para subtrair dinheiro público e beneficiar este ou aquele indivíduo, esta ou aquela malandragem política e/ou financeira, mas não quero falar do que já é conhecido pelos noticiários. Falarei aqui daquelas que levam a sério seus trabalhos, seus objetivos sociais, das entidades plenas de boa-vontade, que se preocupam, de fato, com o que ocorre no mundo da desigualdade que é o Brasil e com o bem-estar de sua população.

Essas organizações sérias, muitas vezes têm por colegas pessoas físicas e jurídicas. Recebem dinheiro de Fundações, da Classe Média, do Setor Privado e do Governo para a realização de seus projetos, que vão desde a defesa de uma causa específica até os cuidados com pessoas destituídas de possibilidades físicas e mentais para sua sobrevivência.

Para o que será discutido aqui, podemos colocar todos no mesmo patamar, o da solidariedade, da necessidade de ajuda aos mais carentes, da tentativa de criar um país mais justo num futuro de médio e longo prazos. Mas qual é o real resultado das ações destas entidades?

Não usarei aqui de estatísticas ou qualquer estudo sociológico complicado. Apenas farei observações pertinentes às minhas percepções da realidade.

PROGRESSÕES

Essas ações, por serem pontuais, na maioria das vezes conseguem um resultado também pontual. O que eu quero dizer é que mesmo com todo o esforço individual e muita boa-vontade, exatamente por ser individual (leia-se aqui um pequeno grupo com um único propósito), o resultado é limitado tanto no tempo de duração quanto em sua influência futura. Claro que existem vários casos que se configuram exceções, mas o que mais se vê, divulgado pela imprensa, são os trabalhos desenvolvidos de acordo com a emergência. Algo como: “vamos solucionar o problema da fome de tal região levando comida aos famintos”. Ou “vamos retirar as crianças das ruas oferecendo a elas a oportunidade de aprender a dançar, pintar”... Tudo isso é válido e, de fato, traz um resultado positivo, porém continuam a ser ações pontuais. Muitas dessas organizações trabalham de modo assistencialista e emergencial, não permitindo ao beneficiado a continuidade de qualquer projeto.

Enfim, mesmo que atinjam esse objetivo, o de que o beneficiado adquira auto-estima e potencial humano para lidar com sua vida, esse trabalho todo ocorre em progressão aritmética, num processo muito lento, enquanto que o crescimento da pobreza, da carência e da criminalidade ocorre em progressão geométrica, infinitamente mais rápido. Basta vermos as estatísticas dos últimos anos no que se refere ao aumento da criminalidade, à organização do crime, ao envolvimento de crianças com o narcotráfico, ao número de crianças nas ruas. Estatísticas sobre o aumento da pobreza nos grandes centros urbanos e nas áreas rurais, o aumento da prostituição e do trabalho infantis... Não é necessário descrever esse cenário, tão comum aos nossos olhos que já não nos indignamos mais.

Aparentemente essa equação, de ao menos igualar a velocidade de seus resultados, é insolúvel. Se assim for, nada poderemos esperar do futuro de nosso país, de nosso povo.

SONHO

Talvez me considerem um sonhador, mas acredito que haja sim solução para essa equação. A solução está num projeto nacional, um projeto social nacional, onde cada necessidade real deverá ser analisada e tratada de forma consciente e transparente. Esse projeto, criado e colocado em prática por pessoas das várias camadas sociais e profissionais, depois de um amplo debate, utilizaria exemplos daquilo que deu certo em outros países e com características brasileiras, respeitando-se aí as regionalidades. Desse grande projeto social, vinculado a uma entidade que una todo o terceiro setor, nascerá a solução.

O PROJETO

Os principais elementos de composição desse projeto são a EDUCAÇÃO e a CULTURA. Como sabemos esses são os componentes essenciais para a formação de cidadãos. Com a educação e a cultura, a fome, a doença, a falta de trabalho e demais precariedades da vida serão mais facilmente superadas.

Quanto à educação escolar, os governos municipais, estaduais e federal, tomariam à frente e investiriam pesado na formação de professores, na qualidade do ensino, no conforto das salas de aula, nos equipamentos e laboratórios escolares, no estímulo ao esporte, enfim, em tudo que possa trazer bons resultados nessa área.

Quanto à cultura a aos cursos complementares para a formação do cidadão, as entidades do terceiro setor tomariam à frente. Além desses trabalhos específicos, caberiam às entidades não governamentais os cursos técnicos de formação profissional, assistência aos direitos humanos e demais possibilidades. Todas seguindo um roteiro pré-determinado pelo projeto social nacional, uma espécie de cartilha com características de documento oficial.

No que diz respeito aos problemas emergenciais, como a fome, as doenças, as necessidades básicas para a sobrevivência, estas também seguiriam o roteiro do grande projeto, obviamente adequando-se gradativamente à proposta global.

Esses são alguns exemplos de matérias que deverão ser incluídas na formação do cidadão:

CULTURA SOCIAL:
situações cotidianas, lida com trabalho e dinheiro, relações humanas etc.

HISTÓRIA DA CULTURA:
origem dos comportamentos sociais e culturais, história da arte e da literatura (mundiais) etc.

CULTURA ARTÍSTICA:
atividades para o desenvolvimento da percepção e da sensibilidade (sem o objetivo de formar profissionais em arte) etc.

Matérias estas ministradas desde os primeiros anos de estudo, adequadas às linguagens de cada momento.

Os governos garantem a alimentação e a moradia de nossa gente.

Todo projeto de cada entidade deverá passar por uma avaliação sem a complicação da burocracia e, analisada sua adequação ao projeto global, será viabilizado.

Creio que, somente trabalhando em conjunto, com uma só meta, poderemos solucionar a equação acima.

Para que haja um futuro, é preciso que este projeto global seja elaborado o mais rápido possível. Quem sabe se daqui a 20 ou 30 anos não teremos um povo mais saudável em todos os sentidos.


03.05.2006

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