quarta-feira, 27 de maio de 2009

MINHA HORA PREDILETA - Poema em prosa

Minha Hora Predileta
Aniz Tadeu - 2001

0h. Zero hora. A hora inexistente. A hora morta; dos mortos; da profundeza da alma; do despertar dos espíritos turbulentos; da manifestação dos fogos fátuos; do desespero do coveiro; das tristes lembranças; do sol do outro lado. Também é a hora do primeiro gozo; do vinho entornado; do abraço ardente do novo ano; da alegria da chegada; do céu estrelado com Vênus e constelações cintilantes. É a hora do piscar de olhos pelo sono que se aproxima; do amor acarinhado no leito lambuzado; do sexo exalado pelos poros e pela boca; da saliva trocada pelas línguas sedentas; da ardência de orifícios cordiais. Hora de corpos se fundirem em simbiose, de dois serem uno, assim como seria Deus se existisse. Hora das peles cobertas de peles; de sons, gemidos ou não, expandirem-se pelo ar; do orgasmo, múltiplo ou não, porém orgástico. Hora da luz inversa, avessa aos olhos nus; do sonho, súcubo, minha demônia que me vem copular, ou incubo, demônio eu que venho para violentá-la. Hora sem tempo, inerte, estático, vertical. Hora impressa nas horas que inventamos, nas horas que reinventamos, nas horas que destruímos. Essa é minha hora: a não hora, o tempo inexistente.

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