quinta-feira, 28 de maio de 2009

POEMINHAS


TEMPORAL

É tempo de novos tempos
Tempo de tempo perder
Ganhar tempo para tempo ter

É tempo de parcos tempos
Tempo de tempo caçar
Predar o tempo e o tempo matar

É tempo de cegos tempos
Tempo de tempo prever
Ver o tempo do tempo ser

É tempo de quentes tempos
Tempo do tempo esquentar
Queimar o tempo e o tempo acabar


IDOLATRIA

Safo-me da deidade lunar
Assim como a coruja que cai
- abismos que não saem nem de mim nem de Safo
No universo de Safo
O homem idolatra
Aquilo que um dia desprezou

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POEMA DOS ONZE VERSOS

Na corda bamba
Vejo-me pendurado
Estirado pois ao chão
Vendado da agonia
De partida me despeço
Dos excessos de vida
Que na maldita estrada
Ainda amada e bela
Rodeada de velas candentes
Pendentes de cada fio
Crio o mar da solidão


FRAGMENTO

É bela a construção
Do poema irregular
Tal qual uma casa
Que é para se arquitetar
Sobre bases sólidas
Transparentes e pesadas


POEMINHA

... e nos momentos que virão no pós-vida
tudo se esvairá – até mesmo o amor –
Enquanto isso...


S SISTEMA

Saio da saia e salto
Sinto saudade sua
Salvo o sexo sorrindo
Sacrifico-me pelo sino sacro
Sentir sono é a senha
Sorrio um sorriso sanado
Sorvo sentimentos com som
Saturo a sorte surrando-a
Solto supersonhos
Somo sumos sumindo
Susto somas sérias
Simples símbolos sarcásticos

Minha sina é um saco saturado


SINA

Se Safo saísse
E sugasse o sêmen de um ser sereno
Seria a sina superada e satírica
Da serpente que sacia a sede
Se Safo sufocasse e sanasse os seres sérios
Os subordinasse a seus sentimentos
Sabiamente seríamos sumos sacerdotes
Se Safo sacrificasse os sacanas do sistema
Seguramente saberíamos quão santos seríamos


ROSTO-VIDA

OLHO

O olho que chora
A lágrima que cai
O olho que diz
Que vai e não vai

NARIZ

O nariz que cresce
O nariz Pinóquio
Verdade era mentira
Causada pelo ódio

BOCA

A boca calada
Palavra impronunciada
A boca que sorri
Sorri do nada


BAR

No carro da morte
No cérebro da sorte
O acaso fascina

No centro do ponto
No feltro da mesa
O jogo continua

No carro do túmulo
No sistema da tumba
O inimigo censura
O amigo critica

No pasmo de um canto
No céu de uma penumbra
O limite é ilimitável
O prazer irrecusável

Eis aí a síntese de um bar


POEMA DOS QUATRO VERSOS

Delirante adrenalina alheia
Aliciante cativa do perigo
Instigante fronteira em chamas

Trindade em ti!


SIRI

Dia que dia diabo é
Na madrugada vaga-larga
Cativa na vida de vida ungida
Larga a carga que rola pé

Foge da luta puta vida
Bruta maluca que labuta-assusta
Ri-sorri da vez do siri
Que marcha murcho de pé em pé

Pede cigarro-pigarro e sarro
Goza na meia-meia gozada
Pratica-critica cada gota
Goteja na mesa-na sopa
Fala que falo que falo é


DOVE

Son perduto nel tempo
In cui ero schiavo di me stesso

Son perduto nelle scarpe
Che alzano sul mare

Son perduto nella mosca
Che arriva per salutarmi

Ho scomparso nelle scarpe
Che stano sul di me


AQUI JAZ

Fujo do fogo e furto
Finjo fugir com facilidade
Fácil é fazer fome
Fome favela faminta
Fumo fumos férteis
Figuro figuras finas
Facilito focos fúteis
Fungo flores fechadas
Fatos e fotos finais
Fraturo farturas fatais
Fujo do fogo e faleço


QUARTO DE POETA

A musa invade aquele lugar estranho
Aquele lugar tão natural quanto o céu e a lua
O silêncio domina a noite nas velhas paredes já amareladas
Quando somente o ser alado canta seu hino de liberdade
As folhas da Dama da Noite
Que está agora em seu êxtase sensual e penetrante
Repousam suas velas naqueles mares lilases
E voam no sonhar do amanhã


PÁSSAROS, ABELHAS, FLORES, MULHER

Sobre o sol
Pássaros azulões
Flamejados
Cadenciam seus piares
No cair suntuoso da neve

...sobre aquele calmo e verde mar
que sonha com seus tritões
sereias
polvos
e enguias lampejantes

Caminham ao encontro das abelhas
Que depositam nas flores
O pólem tirado de outra mulher

OS CASACOS REPOUSAM AINDA NOS GUARDA-ROUPAS


NA REDE

Na rede na parede
De um lado vejo o mar
Não sei se balanço
Ou se a onda que vem
Me vem balançar
De outro vejo a terra
Que vem pra me dizer
Pra nunca mais parar

O que vejo é o desejo
De nunca mais voltar
Pra terra que não é minha
Minha terra se faz mar
A onda se faz rainha
A paixão é a que tinha
De – na rede – me apaixonar

Não sei se balanço
Ou a onda que vem
Me vem balançar
A terra me veio dizer
Pra nunca mais parar


MULHER E PÁSSAROS NA NOITE

Como nas tintas de Miró
“Mulher e Pássaros na Noite”
O amarelo da lua invade o negro
O negro faz sombra na luz

O amarelo são os cabelos conexos
O negro, o oriental norte-afro
A lua, a luz crescente infinda
A luz, o fundo de minh’alma

Pássaros em trajetórias ascendentes
Sombreando minh’alma, reluz
Asas estelares, negras asas
Asas cruzes ziguezagueadas

Mulher com os olhos soltos
Seios fartos, negros seios
Pontilhando o fundo de minh’alma
Mulher insinuando meus desejos

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